DIA DAS BRUXAS PARA PESSOAS IDOSAS

Final da Avenida Independência, e início da Mostardeiros, uma figueira plantada na calçada, com suas raízes imensas, onde passam os pedestres, numa pequena faixa para passagem.

Uma Senhora de 75 anos, saindo de uma consulta num hospital, cuidadosa caminha devagar e segundo ela, com os pés bem altos do chão, pois sabe as armadilhas dos   calçamentos em Porto Alegre. No entanto, apesar de todo o cuidado tropeça e cai sobre o braço. Uma dor lacerante a impede de se movimentar, chega a ficar tonta e quase desmaiar, as “bruxas” estão soltas… cheia de temor não consegue nem ligar para algum familiar e avisar do ocorrido, seu carro está no estacionamento, mas também é impossível dirigir. Cenário de terror, literalmente.

Mas se há Bruxas, existem Anjos na terra, disfarçados de trabalhadores humildes e prontos para atender as pessoas em estado de vulnerabilidade. Ela não entendeu de onde ele veio, só percebeu que já haviam colocado uma cadeira de rodas para ela sentar, e que havia uma médica, que trabalhava no edifício, verificando a extensão de seus ferimentos.

Após os encaminhamentos necessários, foi verificada uma fratura no ombro, e consequente imobilização do membro para a consolidação do osso por 50 dias, mais fisioterapia e medo muito medo de voltar a cair ao andar pela cidade.

Avenida Azenha, quase esquina com Oscar Pereira, uma sinaleira para pedestres com 20 segundos para a travessia, com asfalto irregular   pessoas atravessando de olho no tempo do semáforo, aos 15 segundos um motoqueiro acelera sua motocicleta, assustando um dos idosos que fazia a travessia, neste momento ele resvala e cai, numa queda sobre o joelho com a outra perna estirada para trás.

Acudido por pedestres e alguns motoristas é levado para casa, por sua própria insistência. Após algumas horas seus familiares o levam ao HPS, onde foi constatado fratura na patela com hospitalização e futura cirurgia para reconstituição do membro fraturado. No Hospital ao ir ao banheiro esta mesma pessoa idosa escorrega e sofre nova queda, fraturando desta vez o fêmur, o que o levou a 45 dias de internação hospitalar com duas cirurgias e complicações clínicas pelo período prolongado de internação, sem poder sair da cama. Após a alta hospitalar precisa locomover-se com cadeira de rodas ou andador, necessitando da assessoria diária de um familiar ou cuidador para suas necessidades básicas.

Na Avenida João Pessoa, uma pessoa idosa entra no ônibus, com duas sacolas e mais sua bolsa, com alguma dificuldade, considerando a altura dos degraus, mal sobe os degraus,   o motorista acelera e coloca o ônibus em movimento com uma arrancada brusca que a leva a uma queda no corredor do mesmo, ao tentar levantar-se sem o auxilio do motorista ou cobrador constata uma lesão nos joelho, e uma dor forte  no punho, ao queixar-se ao motorista, o mesmo debocha de sua queixa e pergunta –lhe se quer que a leve ao HPS, mas por vergonha ou por dificuldade de colocar-se adequadamente perante o incidente, prefere seguir seu destino para casa. Ao chegar em casa percebe a região do glúteo toda arroxeada e seu punho edemaciado, num pronto atendimento é constatado uma luxação no braço, que foi imobilizado por quinze dias, além das dores que a levaram a ficar em repouso por mais de uma semana, decidida a não mais andar de ônibus.     

Um cenário tenebroso para as pessoas idosas envolvidas nos acidentes, família sob tensão e tentando minimizar as sequelas de acidentes que poderiam ser evitados se houvesse maior cuidado na pavimentação da cidade, e maior respeito a circulação de pessoas idosas nos meios de transporte, pelas ruas e calçadas de cidades que não são Amigas das Pessoas Idosas.

Um conto assustador para o “Dia das Bruxas”, mas sem doces ou travessuras, apenas com cenas reais na vida cotidiana de pessoas idosas desrespeitados pelo poder público e pelo preconceito de quem não pensou adequadamente sobre o que pode acontecer num dia qualquer na vida de uma pessoa idosa.

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