O idadismo da aposentadoria

– Pensei que já estavas aposentado, disse-me um colega que há tempos não nos víamos.

– quanto tempo falta pra te aposentar, disse-me outro.

– Te aposenta e vai aproveitar a vida, diz a maioria.

Segundo as pessoas, só me resta uma alternativa: a aposentadoria. Trata-se, na cabeça delas, de uma obrigação. É “velho”? Não tem que estar trabalhando!

Não lhes passa a ideia de que é possível, sim, continuar trabalhando, mesmo tendo adquirido o direito a se aposentar, ou, segundo pensam, mesmo sendo “velho”.

Que razão levaria alguém, em pleno ápice das suas capacidades mentais e, no mais das vezes, físicas, a se aposentar? A deixar de contribuir com a sociedade?

O interessante é que ninguém diz isso para um ministro do STF, que se aposenta aos 75 anos. Ninguém diz isso ao presidente da República que, no auge dos seus 78 anos, segue comandando o país com toda vitalidade. Ninguém diz isso para um grande número de empresários que, mais que sexagenários, seguem a pleno vapor no comando das suas empresas.

Ninguém diz isso para músicos, artistas, atores e olha que há uma geração inteira já acima dos 80 anos, ou próxima disso, que segue produzindo e trabalhando. Ninguém diz isso de médicos, advogados e outras tantas profissões liberais.

Claro que existem profissões e trabalhos altamente desgastantes. E quem os exerce quere mais é se aposentar assim que puder. Mas não podemos generalizar e manter o estigma de que pessoas idosas não estão mais aptas para o trabalho.

E isso é um problema sério na nossa sociedade: a dificuldade que a imensa maioria de pessoas, a partir do 50 anos, encontra para continuar trabalhando. E por quê? Porque são trabalhadores de carteira assinada. O idadismo contra trabalhadores a partir de certa idade é muito praticado pelas empresas. Uma massa imensa de pessoas ainda plenamente aptas a continuarem produzindo é jogada no limbo do desemprego e sem a menor chance de se recolocar.

Ou se aposenta ou vai pra rua.

De qualquer forma, permanece o estereótipo de que “velhos” têm mais é que ficar na praça jogando bocha, ou em casa cuidando dos netos ou, ainda, fazendo roupinhas de crochê.

Não sei jogar bocha, não sei fazer crochê e meu neto mora muito longe.

– Olha aí, te aposenta e vai visitar teu neto…

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