Mais um livro sobre as pessoas idosas. De uma assistente social, ativista, militante do feminismo, amiga e parceira de lutas de Luíza Erundina, que escreve o Prefácio. Fui ao livro dela, porque vi o lançamento do mesmo, com uma fala muito bacana da Luiza Erundina. Não é um livro que traz muitas novidades, pelo contrário. Mas é um bom livro, porque repete, porque lembra, porque insiste naquilo que todos sabemos, mas que parece que se lê, se fala, se badala, mas esquece tudo em seguida. São 119 páginas de boas lições, algumas vou citar e falar aqui, porque nunca é demais repetir, como já disse. E o livro termina com um poema que a autora credita ao uruguaio Mário Benedetti que é uma Ode ao Tempo, aos Idosos e ao Amor: Não desista! Porém, não se encontra nos seus escritos, o que não tira o seu valor. Não desista, ainda há tempo Para chegar e começar de novo, Aceitar suas sombras, Enterrando seus medos (…) E aí vai. Um ensinamento muito certo de Muna Zeyn é “ouvir”, porque segundo ela é um portal para mundos inexplorados. Eu diria mais que “ouvir” é preciso “escutar”. Uma leve diferença semântica, mas marcante em sentidos. Para ela da geração de 68 como para mim dos fins dos 70, a militância e o ativismo estão embrenhados em nós, portanto ver “velhos abandonados” leva a gente a reflexões e ações. E ela acerta quando fala que o desdém, descaso e indiferença com as pessoas idosas não tem classe social. O problema está em todos os segmentos da sociedade. É claro que ao longo do escrito ela deixa muito claro que o problema social, das classes, é cruel; pois os abandonados, os pobres, moradores de rua, os negros e pessoas do campo são os que mais penam. Como eu costumo fazer quando trato da pessoa idosa, a autora vai à Constituição para lembrar a dignidade humana, vai ao Estatuto da Pessoa Idosa para lembrar o papel do Estado e da sociedade, não apenas da família. Muna fala do etarismo, prefiro o termo idadismo, mais amplo, pois os preconceitos, os estigmas não são apenas aquele que atinge o velho, mas o jovem também. A autora ataca bem o velho mito da eterna juventude, da aparência, fazendo uma defesa das cabeças prateadas que teimam em surgir na cena. Ela não desdenha o autocuidado e o prazer. Também encara o tema da sexualidade, sempre um tabu geral, mas particularmente dentro do seio familiar. Ela dá bons exemplos, inclusive. Não foge de debater o pequeno espaço das idosas, mulheres, como é o caso de Benedita da Silva e Luíza Erundina já octogenárias, únicas no Congresso. E se faz altiva e determinada diante da violência contra a pessoa idosa, seja na questão patrimonial, física e psicológica. São estes os principais temas que nossa autora trata, eu diria que sua leitura só vai nos ajudar a sermos melhor com a gente mesmo, estando na chamada “terceira idade” como ela fala, como com os outros e outras. A autora passou ao largo de uma temática essencial que é o não existente diálogo intergeracional. Mas vale a leitura. Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito. Muna Zeyn é graduada em Serviço Social, exerceu o cargo de Chefe da Secretaria Particular da Prefeitura Municipal de São Paulo – Mandato “Governo Democrático Popular” – de 1989/92, foi Coordenadora das atividades do primeiro atendimento à saúde das mulheres acampadas, e dos assentamentos das reservas indígenas do Estado de São Paulo. Atuou como membro da Comissão Científica da Mulher do Estado de São Paulo; membro da Comissão do prêmio Galba Araújo – 2000/2004 e membro titular do Comitê de Vigilância à Morte Materna e Infantil do Estado de São Paulo- 2008/2016. Participou da elaboração da Lei 2.155/1999, que criou o relatório Anual Socioeconômico da Mulher — RASEAM; da Lei 11.104/2005, que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde, que ofereceram atendimento pediátrico em regime de internação; e da Lei 11.634/2007, que garante o direito da gestante ao conhecimento e vinculação à maternidade do SUS onde fará seu parto. As três leis são de autoria da deputada Luiza Erundina. Homenageada com a medalha Ruth Cardoso em 2010 e foi apresentadora do Programa ALLTV Mulher, de 2003 a 2014. Muna luta pela participação efetiva da Mulher na Política e nos espaços de poder. É, ainda, autora do blog Palavra de Mulher. (fonte: Academia Paulista de Direito) Navegação de Post DEMÊNCIA – NÚMEROS ALARMANTES MÊS VIOLETA
