
Eugênio Giovenardi é de Casca/RS. Nascido há 90 anos. Vive pela região do Cerrado.
O nosso conterrâneo andou rodando pelo mundo. Muito jovem foi levado ao Seminário. Virou padre. Questionou-se sobre suas crenças. Largou a batina. Casou-se com uma jornalista finlandesa. Tem uma filha e duas netas.
Tem mais de duas dezenas de livros publicados e levou o Prêmio Açorianos de Literatura em 2003, aqui da Secretaria de Cultura de nossa Prefeitura.
Meu amigo Paulo Timm, agora octogenário, em sua última estada pela região do Cerrado, trouxe o livro do Eugênio para minha apreciação, sabedor que é dos estudos que realizamos sobre o envelhecer, sobre as pessoas idosas.
Em suas 195 páginas, Eugênio circula entre suas Memórias, reflexões sobre sua existência, sobre o lugar das coisas, seja o tempo das árvores que tem no Sítio que preserva, como sobre o Homem em sua trajetória, seu caminho pelo Planeta Terra.
Em vários momentos o autor retoma o tema da “velhice do tempo”, tentando nos demonstrar que o tempo do homem no locus terrestre é ínfimo comparado com a existência do Planeta.
E volta e meia retoma também a questão do tempo da velhice, quando a gente começa a entrar na velhice ou se tornar velho. E Eugênio relativiza este início de pessoa a pessoa.
“O tempo da velhice é sensível
à inexperiência sorridente da criança,
à pacatez silenciosa das árvores.
ao canto dos pássaros na madrugada,
ao murmúrio da nascente de água
atraída pelo mar longínquo,
à imortalidade das pedras.”
O autor resume para o leitor um ideário de sua velhice com a proximidade da Natureza, da recuperação de um sítio, dos cuidados; é a sua escolha de viver o tempo de sua velhice. Não faz deste modus um ideário para os outros. Ele fez a sua escolha. Que façamos a nossa a partir de sua visão correta do quanto é “velho (o) planeta”.
Ele arremata, dizendo: “o planeta se enche de cadáveres. Uma realidade incômoda diante de um planeta repleto de vidas”.
Alguém que faz estas reflexões não fugiria do tema da finitude, pois para ele “a vida é tão misteriosa quando a morte”. E o autor vai tratando deste “gran finale” quando se olha e vê que já viveu décadas e que um dia tudo acabará.
“A velhice age por conta própria. Não se comove com explicações ou desculpas”.
Sem se referir ao problema do idadismo/etarismo, nosso autor ataca os eufemismos em torno da velhice, tendo riscado todos eles da sua vida. E arremata: “saboreio a felicidade de ser velho”.
Suas comparações são bem interessantes: “(…) no celular mais moderno continuamos a dizer as mesmas estultícias (…)”. Mas “as velhas amizades não envelhecem”.
O autor sabe, como nós deveríamos saber, que os dias são contados:
“Não faças da tua vida um rascunho,
Poderás não ter tempo de passá-la a limpo”, citando nosso Mário Quintana.
Os nossos dias são contados. E é bom que algumas pessoas escrevam pelo mundo afora chamando a atenção para os novos tempos para as pessoas idosas, seja aqui ou no Japão.
Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito