Melhor idade não existe

“Melhor idade” parece ter sido uma invencionice francesa, para “dar conforto” às pessoas que envelheciam. 

Nesta onda, alguns marqueteiros viram possibilidades de lucros. Governos descompromissados com reais preocupações sociais resolveram aplicar o conceito, criando programas para “algumas pessoas idosas”, deixando à margem aquelas que mais necessitavam  de ações públicas, como doentes, acamadas e em estado vegetativo.

Falar de “melhor idade” é desdenhar da realidade.

Por isso, o correto é tratarmos os “velhos” como  pessoas idosas.  Com a longevidade queremos vê-las sadias, praticando esportes, exercitando-se, passeando e em múltiplas convivências, até um retorno ao trabalho.

Com a longevidade e os necessários cuidados que qualquer pessoa idosa tem que ter, os governos, em não tendo se preparado e não tendo um sistema de previdência pujante, começam a questionar a idade na qual se entra na velhice.

Um dos casos mais emblemáticos é o da Correia do Sul, com grande número de superidosos, onde se pretende passar a 74  anos a entrada na velhice. A crise também advém dos baixos índices de natalidade, 0,75 por mulher. Lá onde parece que a riqueza é magnifica, quase metade da população está na pobreza. Na Alemanha, 19%.

Com as políticas de Milei, nossos irmãos idosos na Argentina estão na pior das amarguras, com homens e mulheres já aposentados indo cair nas ruas e vivendo suas desgraças, longe da “Melhor idade”, algo que para eles é cretinice.

O Chile já vivenciou  dias assim.

Nos Estados Unidos, já em 2020,  havia 5 milhões abaixo da linha de pobreza entre pessoas com  65 anos.

A forma de tratamento à pessoa idosa foi  distinta entre os povos.

Se tomarmos exemplos de nossos povos originários é o mais velho que é o pajé. O respeito aos griôs  é uma tradição entre os povos afrodescendentes. Mas nem sempre foi assim, como nos ensina Simone de Beauvoir em seu ensaio icônico “A velhice”, pois naquele continente e em outros cantos do mundo, em especial entre os nômades, pessoas idosas eram deixadas de lado, morrendo de fome,  mortas, com uma flecha, mas em geral eram sabedoras deste destino cruel.

Igual ou pior crueldade persiste, pois o descarte, a exploração pelos filhos e netos, o esquecimento leva a  uma morte por tempos e mais tempos  triturando corpo e mente. 

Logo, vamos atentar para nossas realidades cruéis antes de alardear conceitos preconceituosos como é o caso da “melhor idade”.

Quais as políticas sociais e de integração plena da pessoas idosa em nível federal, estadual e municipal?

Como vamos ajudar esta população que já não consegue realizar sua auto-organização?

Cabe a nós da sociedade civil propor e cobrar.

É o que estamos fazendo.

Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito. 

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