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O apagamento das gerações ou o idadismo explícito

Em recente entrevista para a jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, o presidente do Supremo Tribunal Federal – STF, ministro Luís Roberto Barroso, ao responder a pergunta de que se “do ponto de vista da nossa democracia, nós melhoramos:”, responde:

“Houve, ao mesmo tempo, um avanço importante dos direitos das mulheres, das pessoas negras, da comunidade LGBTQUIA+, das pessoas com deficiência, das populações indígenas”.

Alguém poderá argumentar que em todos esses estratos sociais citados existem jovens e pessoas idosas. Sim, contra fatos não há argumentos.

Há uma questão, no entanto, que não tem sido vista por tantos quantos defendem esse argumento: a diferença de idade implica em diferentes tratamentos não apenas sociais como por parte do estado e da sociedade.

Pessoas LGBT com mais de 60 anos sofrem diferente de pessoas LGBT jovens. Mulheres com mais de 60 anos sofrem diferente de mulheres jovens. Pessoas negras com mais de 60 anos sofrem diferente de pessoas negras jovens. Isso sem levar em consideração a classe social, fator determinante, que é, das mais variadas formas de discriminação.

Colocar, como se diz no jargão popular, tudo no mesmo saco, é definir que ser negro, mulher, LGBT, indígena ou qual seja o rótulo escolhido, é não ter a sua individualidade respeitada. 

A pergunta para a qual o ministro não teria resposta seria: do ponto de vista da nossa democracia, melhoramos em considerar as pessoas idosas e os jovens, da geração Z, por exemplo?

Com certeza, apesar de ser uma pessoa idosa, o eminente ministro não tem em seu horizonte “ser uma pessoa idosa” e, quiçá, menos ainda, considerar os jovens.

Desconsiderar, no rol citado, o fato de que pessoas idosas e jovens não são negras, não são mulheres, não são indígenas, não são pessoas com deficiência e que são apenas pessoas, é ignorar que as etapas da vida são diferentes independente dos rótulos que damos a elas.

E que jovens e pessoas idosas são estratos sociais únicos em suas características. E que abrangem períodos de vida tão vastos que não podemos simplesmente carimbá-los com rótulos tipo “velhos” ou “nem-nem”. 

Essa é a mudança que precisamos promover: trazer para a pauta da sociedade não apenas a cor, o sexo, o gênero, a etnia, mas ver que tratamos como invisíveis, quando não risíveis, os jovens e as pessoas idosas. 

Esse é o objetivo do Movimento Sociedade Sem Idadismo: promover essa mudança!

1 comentário em “O apagamento das gerações ou o idadismo explícito”

  1. Que belo texto. Tanto quanto na escrita, é e principalmente é, perfeito na reflexão. Desde que passei a acompanhar o Movimento, penso que jamais pratiquei tanta empatia e reflexão sobre essas questões. E a sabedoria só se dá quando da reflexão passamos a revisitar tantos conceitos consolidados ao longo de uma vida e que mostram a sua vulnerabilidade em se sustentar nós dias atuais. Ainda bem que ainda dá tempo.

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